O menino tinha apenas seis anos. Ele já conhecia de cor várias centenas de versos antigos e vinha meditar nos locais frequentados pelos poetas de antigamente.
Pelas ruas, numerosos passantes voltavam-se para contemplar a beleza de seu rosto e a rutilância da sua veste. O menino caminhava sob os olhares surpresos com a segurança de um adulto.
Ao pé do pavilhão da Lua, um monge taoísta esfarrapado e de idade indefinida parou-o. Chong Yang ordenou que lhe dessem esmola. O ancião predisse-lhe encontros extraordinários, a celebridade, uma imensa fortuna. “Mas, acrescentou, são apenas poeira e sonhos”. Sem pegar o dinheiro que lhe estendiam, soltou um suspiro e se dirigiu ao lago balançando a cabeça. Logo, o cinza de sua batina se fundiu à cintilação das águas, em seguida ele desapareceu como sorvido pelas ondas.
No dia seguinte, um dignitário convidou pai e filho para almoçar. Querendo presentear a criança, ele fez desfilar diante de seus olhos, sobre travessas cobertas de veludo, barras de ouro, manuscritos raros, instrumentos musicais, brinquedos automáticos vindos de além-mar. Chong Yang, agarrado a sua cadeira, baixando a cabeça, se recusou a escolher um presente. Pressionaram-no. Fez-se silêncio. O pai forçou-se a sorrir e fez uma piada sobre a timidez de seu filho. Mas ralhou em voz baixa, dizendo-lhe o quanto sua conduta era impertinente. As faces de Chong Yang se coloriram de púrpura; com uma voz surda, ele replicou que tudo lhe era indiferente. O dignitário considerou a resposta do menino como um insulto e se aborreceu. O pai de Chong Yang multiplicou-se em desculpas.
Começaram a cochichar.
Cabeça baixa, o menino se levantou e saiu. Seguiram-no. Ele caminhou até um lago, onde um salgueiro chorão acariciava a superfície das águas com sua folhagem magnífica. Esticado, na ponta dos pés, ele cortou dois longos galhos e os manteve em seus braços. “Aqui está meu presente”, murmurou. Intimidado pelas risadas, ele saiu correndo.
Pai e filho voltaram à casa pelo rio Azul. Chong Yang não tirava os olhos dos dois galhos. Colocados em um vaso de porcelana, eles ondulavam ao sabor das ondas. Mal chegou, apressou-se a plantá-los sob a janela. Seu comportamento divertiu toda a casa. Diziam-lhe que eles não sobreviveriam. O menino parecia nada entender. Ele regava-os todos os dias e os contemplava com paixão. Os dois galhos criaram raízes, novas folhas brotaram. Em poucos anos, atingiram uma bela altura, tombando até a terra sua espessa cabeleira.
Shan Sa, Les quatres vies du saule. Inédito em português.
Tradução de Saint-Clair Stockler